O tempo não pára
O vento úmido da manhã de hoje deixava um clima de recolhimento. Me encolhi no casaco e continuei num olhar perdido para o jardim. De repente, me dei conta de uma colega de turma que acabara de se sentar ao meu lado:
_ Esse professor não vai dar aula, hoje?
_Não sei, até agora não chegou..._ comentei.
_Nossa, peguei ele para me formar logo... Falta pouco. E você?
Eu despertei do meu devaneio. Estava tão entregue à lembrança deste tumultuado fim de semana, cheio de emoções à flor da pele, que, de repente parar e pensar no futuro, requeria fôlego:
_Ah, me formo ano que vem em jornalismo também. Mas depois quero fazer publicidade.
_É? Eu vou voltar a fazer Direito também! Larguei no segundo ano para casar com um militar.
Aquela palavrinha “militar” me sacolejou o espírito. Virei-me para ela estupefata:
_ Sério? Eu namoro um militar! _ de repente me senti com uma amiga de longa data. Não sei porque, mas ao lado de uma mulher que ama um militar temos a sensação de não precisarmos explicar nada, que ela vai entender metade dos nossos conflitos!
_Que legal! Ele era da marinha. Larguei direito e fui para o Sul com ele e tivemos dois filhos. _ O brilho nos seus olhos e o sorriso no rosto deixavam claro o quanto para ela não existia arrependimento em ter abandonado a vida acadêmica.
_Puxa! Lá deve ser frio... _ fiz um comentário vago, para deixá-la livre, queria ouvir um pouco da voz da experiência. Rapidamente especulei sua idade, deveria ter uns cinqüenta e pouco. E ali, estudando jornalismo comigo! Isso sim era uma grande história:
_Era muito! Mas te aconselho, nada de deixar ele ir para “base” sozinho! O que eu via de aspirantes traindo as noivas... Nossa..._ fez uma pausa reprovadora._ Mas depois de um tempo eles casavam e traziam as meninas novinhas. Eu era uma mãe para elas. Eles saíam para vários países de navio e nós tínhamos que inventar coisas para fazer. Nós nos uníamos para cuidar dos filhos, para fazer grandes almoços... Dias tão felizes!
_ Deve ter morado em muitos lugares...
_Morei no sul, em São Paulo, no Rio... Mulher de militar tem que ter muita coragem. A gente não é só mulher, é amiga, companheira para todas, todas as horas!_ enfatizou.
_ Eu sei bem o que quer dizer._ ri.
Ficamos naquela deliciosa conversa, rindo de sentimentos parecidos, mesmo com idades tão diferentes. Ela poderia ser minha mãe. Mas a experiência única de amar um militar nos unia.
_ E agora vocês estão morando no Rio?
_ Ele faleceu... _ seu olhar se desviou para o chão._ Morreu com cinqüenta anos..._ suspirou com o pesar de quem estava em um lindo filme que não podia ter parado._ Foram dias incríveis aqueles... Eu me divertia muito. Uma vida linda!
Entendia agora porque aquela simpática senhora de cabelos loiros com fios brancos estava ali se formando em jornalismo e pronta para encarar Direito, depois de tanto tempo. Mesmo com cinqüenta anos e dois filhos criados. Porque, como dizia, Cazuza:
_ Esse professor não vai dar aula, hoje?
_Não sei, até agora não chegou..._ comentei.
_Nossa, peguei ele para me formar logo... Falta pouco. E você?
Eu despertei do meu devaneio. Estava tão entregue à lembrança deste tumultuado fim de semana, cheio de emoções à flor da pele, que, de repente parar e pensar no futuro, requeria fôlego:
_Ah, me formo ano que vem em jornalismo também. Mas depois quero fazer publicidade.
_É? Eu vou voltar a fazer Direito também! Larguei no segundo ano para casar com um militar.
Aquela palavrinha “militar” me sacolejou o espírito. Virei-me para ela estupefata:
_ Sério? Eu namoro um militar! _ de repente me senti com uma amiga de longa data. Não sei porque, mas ao lado de uma mulher que ama um militar temos a sensação de não precisarmos explicar nada, que ela vai entender metade dos nossos conflitos!
_Que legal! Ele era da marinha. Larguei direito e fui para o Sul com ele e tivemos dois filhos. _ O brilho nos seus olhos e o sorriso no rosto deixavam claro o quanto para ela não existia arrependimento em ter abandonado a vida acadêmica.
_Puxa! Lá deve ser frio... _ fiz um comentário vago, para deixá-la livre, queria ouvir um pouco da voz da experiência. Rapidamente especulei sua idade, deveria ter uns cinqüenta e pouco. E ali, estudando jornalismo comigo! Isso sim era uma grande história:
_Era muito! Mas te aconselho, nada de deixar ele ir para “base” sozinho! O que eu via de aspirantes traindo as noivas... Nossa..._ fez uma pausa reprovadora._ Mas depois de um tempo eles casavam e traziam as meninas novinhas. Eu era uma mãe para elas. Eles saíam para vários países de navio e nós tínhamos que inventar coisas para fazer. Nós nos uníamos para cuidar dos filhos, para fazer grandes almoços... Dias tão felizes!
_ Deve ter morado em muitos lugares...
_Morei no sul, em São Paulo, no Rio... Mulher de militar tem que ter muita coragem. A gente não é só mulher, é amiga, companheira para todas, todas as horas!_ enfatizou.
_ Eu sei bem o que quer dizer._ ri.
Ficamos naquela deliciosa conversa, rindo de sentimentos parecidos, mesmo com idades tão diferentes. Ela poderia ser minha mãe. Mas a experiência única de amar um militar nos unia.
_ E agora vocês estão morando no Rio?
_ Ele faleceu... _ seu olhar se desviou para o chão._ Morreu com cinqüenta anos..._ suspirou com o pesar de quem estava em um lindo filme que não podia ter parado._ Foram dias incríveis aqueles... Eu me divertia muito. Uma vida linda!
Entendia agora porque aquela simpática senhora de cabelos loiros com fios brancos estava ali se formando em jornalismo e pronta para encarar Direito, depois de tanto tempo. Mesmo com cinqüenta anos e dois filhos criados. Porque, como dizia, Cazuza:
“ O tempo não pára...”
9 Comments:
OLá novamente Eliane...
Linda a história, tbm senti o que me falou um nó na garganta! realmente emocionante...
Poxa que história de amor linda... pena que foi tão trágica...mas é melhor não pensarmos no pior!
Pelo menos ela pode ser muito feliz o tempo em que esteve com ele , e é assim que devemos pensar, ser feliz a cada manhã, a cada dia e não permitir q as advercidades da vida venha atrapalhar nada!
Bjinhos a todas!!!
Nossa, que linda história, deu até um nó daqueles na garganta!!Linda experiência de vida!!
Amiga!!!
Lindo texto....
Te adoro, bjo!!!
Devo dizer que vc quase me fez chorar com esta história linda!
Tantas vezes me pego pensando em como serão nossos futuros...
E realmente... nós nos entendemos... as amigas que encontrei devido a escolha do meu namorado, vou levá-las para vida toda! Hj mesmo vamos nos encontrar aqui no Rio! Almoçar e conversar muito!!
Beijoss
Que texto... Me fez parar um pouco pra refletir sobre a decisão que eu tomei... mas estou certa de q td dará certo, sem eu ter q abrir mão da minha vida...
Beijoooos
A minha será tão linda quanto essa história, mas como a Clarissa dará td certo sem que eu abra mão da minha faculdade!!! =]
Gente... que relato lindoo!!!! amei!!!!!!
oi Li, poxa disse para vc no msn que nao leria essa historia toda por causa do começo, mas me arrependi...me arrepiei com o final... mas legal pq ela conta das lembranças de uma forma mto feliz e isso quer dizer que apesar dos pesares...tudo valeu a pena...e assim sera conosco tambem...e que assim seja..amem hehe
;) vc sabe que eu torço por vc...seu chileno (hahaha) e por todas nós. um bjao enorme
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