Dúvida cruel
Ele passara um dia maravilhoso, apesar do calor terrível de hoje e os exercícios do campo, não tinha o que reclamar, a alma permanecia feliz e vivaz como nunca! Nem perdera muito tempo para correr para o celular e mandar uma mensagem para sua amada. E veja, ela fora mais rápida! Abriu a mensagem de texto que ela lhe enviara: “Amorzinho, te ligo mais tarde”. Isso só podia aumentar ainda mais seu estado de exultação. Foi bem animado para seu banho restaurador, esquentou um miojo no micro e ficou ali de papo com os amigos no quarto, até que umas 9:10 o aviso: “Telefone para você”. Não sabia descrever como aquelas palavrinhas o faziam se sentir tão importante, mais que os títulos de suas futuras patentes. Alguém lembrara-se dele ali, dentro da bolha. Nesse orgulho de si, atendeu:
_Oi, minha linda, estou louco de saudade!
_Oi, meu fofo, meu amor, meu querido...
Depois da lânguida introdução cheia de carinhos, veio o golpe:
_Amorzinho, é o seguinte: tenho uma ótima notícia! Amanhã umas amigas combinaram de irmos naquela boate, que a gente se conheceu, para dançar. Você vem, né?
_Amanhã?_ ele repetiu aquilo quase que irritado._ Mas é que esse fim de semana vou pegar serviço... Fiquei sabendo agora... Fui escalado... Sabe como é, no primeiro ano a gente pega bastante serviço... e
_Tudo bem, amor. Entendo perfeitamente, não se preocupe mesmo!
_Ah! Que bom, você é sempre tão compreensiva, é por isso que eu te amo!
_Que isso, amor. Tenho certeza que faria o mesmo!Eu vou. Você confia em mim, né?
“Confio em você, não nos outros”, pensou ele cá consigo, já picado pelo ciúme eminente.
_Claro!Você pode ir._ respondeu prontamente, mas sem nenhum entusiasmo, não ficava feliz, mas também não era justo impedi-la; ao contrário dele, ela estava livre e muito longe dali. Mesmo que não deixasse, munido pelo poder da chantagem psicológica, não iria permitir até quando? Durante os quatro anos que lhe aguardavam?
_Então, meu lindo, eu vou no carro da... não se preocupe... Porque.... eu...
Todo o resto ele nem quis escutar e quando desligou se perguntou onde mesmo estava a alegria, a energia que sentira durante o dia? Já era para ter dormido, mas ainda ruminava pensamentos torturosos: lá estaria na boate, sob as luzes coloridas e ao embalo das batidas, sua linda namorada, toda gostosa e esbanjando sensualidade para o deleite do olhar de um monte de tarados, sendentos, filhos da... Virou para o outro lado e mentalizou que tinha que dormir para acordar muito cedo.
A angústia só foi interrompida na noite seguinte por um telefonema. Só podia ser a mãe, supôs, para lhe perguntar se estava melhor do machucado na mão, se estava comendo direito, aquela coisa de mãe que sempre acha que ele estava num campo de concentração.
Mas não era:
_Amor, resolvi te ligar antes de sair. Estou toda pronta, estou cheirosa como você gosta. Queria que estivesse aqui. Mas ainda teremos muito tempo...
“Que ótimo, ela está ainda mais atraente do que seus pensamentos da noite anterior puderam fabular. Agora sim se sentia irritado por causa da impossibilidade que o cercava. Pior: que o cercaria dezenas de vezes ainda no futuro!”
_É mesmo? Que maravilha, minha gata linda! Eu nem posso falar muito, porque já está quase na hora de eu pegar o serviço. Mas se divirta, tá? No domingo, eu vou dar uma voltinha na cidade para espairecer. Uma voltinha literalmente, porque isso aqui é pequeno, você sabe né?_ riu.
Ela não riu de volta. Não conhecia pessoalmente a cidade ainda, mas sabia muito bem que além de pequena, a cidadezinha era repleta de algumas garotas que tinham como lema de vida encontrar o cadete dos seus sonhos e sumir dali.
_ Olha lá, hen?_ ela já deixou transparecer o ciúme que ele quis provocar para que assim ela sentisse na pele a neurose que ele tinha estado mergulhado desde que ela lhe contara ontem que iria com as amigas, sem ele, para uma boate repleta de caras solteiros e famigerados.
_Não se preocupe, linda. Eu confio em você e pode confiar em mim. Isso tudo vai acabar e poderemos curtir tudo juntinhos ainda.
_Claro..._ ela concordou, tendo a mesma certeza, mas não partilhando de nenhuma alegria. Desligou o telefone se perguntando cadê a empolgação que estava para sair com as meninas? Hei, não poderia ficar com aquela cara depois da superprodução que fizera. Estava style, tudo de bom e não estragaria o visual com um semblante emburrado. Afastou-se do orelhão na esquina de sua casa e já ouviu uma buzina de uns caras que passavam de vagar de carro e fizeram questão de usar as palavras mais sujas para gritar aos quatro ventos como estava encantadora.
Por que não estava ali o seu amor, o seu gatinho fofo, lindo? Ele sim saberia lhe dizer coisas românticas no ouvido e tornaria qualquer programa perfeito?! Não estava, porque a bolha onde se enfiara ficava quilômetros de distância e arrancava seu coro para que se formasse no futuro grande oficial brasileiro. Ah! Que ótimo! Já estava de mal humor.
Na boate, já cansada de tanto dançar, sentou-se a mesa e bebeu um pouco.
Então, seu gatinho sarado, perfeito, maravilhoso, estaria passeando no fim de semana? Não poderia ter uma idéia mais infernal para descontrolar sua paz. Quantas criaturas nojentas não avançariam nele para testar sua fidelidade? Só em visualizar umazinha olhando, tendo o privilégio que ela não tinha, de olhar para seu namorado, já lhe fazia o sangue esquentar por debaixo da pele. Começou a balançar o pé de baixo da mesa, como se tivesse caminhando milhas.Respirou fundo, não podia ficar assim, esse era só o começo de quatro longos e intermináveis anos. Aquelas ocasiões se multiplicariam e não podia criar rugas por isso.
Depois deste momento terapêutico, voltou a realidade e seus olhos focaram um casal na parede à sua frente tentando burlar as leis físicas e querendo ocupar o mesmo lugar no espaço. Eram tantas mãos ali, aqui, subindo, indo, vindo, entrando, saindo e... Meu Deus, se ele por fraqueza caísse em tentação e...
_Alô? Planeta terra?_ ouviu a amiga gritando em seu ouvido.
_Aí, oi!_ tomou um susto.
_Por que está olhando para aquele casal? Tava a fim do cara, é?_riu a outra já meio alta com a bebida.
_Não! Eu amo meu namorado._ achou a ridícula a hipótese.
_Perda de tempo! Depois ele te trai e você já vai estar velha para recuperar o tempo perdido._ atirou a amiga sua opinião como uma metralhadora, já não estava lúcida para medir as palavras.
Deixou para lá, não podia forçar ninguém ter a certeza do amor inabalável que só ela e seu namorado sabiam que tinha. Mas por uma fagulha de segundos passou-lhe a pergunta: sua amiga estaria certa e ela cega? Rapidamente disse: não! E então, nova pergunta: Eu fiz uma lavagem cerebral em mim mesma? Não demorou para a resposta: claro que não, deixa de ser ridícula, se não gostasse, não se sacrificaria. Aí, já que as comportas do inquérito estavam abertas no seu cérebro, veio outra questão vital: Seu namorado sentia a mesma convicção? Lembrou da voz dele ao telefone e da noite em que se conheceram ali, dos deliciosos fins de semanas partilhados com muito amor, beijos e promessas e terminou se acalmando: “Óbvio que ele me ama”.
Resolveu curtir a noite e repensou em como estava sendo egoísta ao não querer que ele desse uma volta na cidade. Precisava confiar, por mais que isso lhe demandasse energia, loucura e risco.
***
_Oi, minha linda, estou louco de saudade!
_Oi, meu fofo, meu amor, meu querido...
Depois da lânguida introdução cheia de carinhos, veio o golpe:
_Amorzinho, é o seguinte: tenho uma ótima notícia! Amanhã umas amigas combinaram de irmos naquela boate, que a gente se conheceu, para dançar. Você vem, né?
_Amanhã?_ ele repetiu aquilo quase que irritado._ Mas é que esse fim de semana vou pegar serviço... Fiquei sabendo agora... Fui escalado... Sabe como é, no primeiro ano a gente pega bastante serviço... e
_Tudo bem, amor. Entendo perfeitamente, não se preocupe mesmo!
_Ah! Que bom, você é sempre tão compreensiva, é por isso que eu te amo!
_Que isso, amor. Tenho certeza que faria o mesmo!Eu vou. Você confia em mim, né?
“Confio em você, não nos outros”, pensou ele cá consigo, já picado pelo ciúme eminente.
_Claro!Você pode ir._ respondeu prontamente, mas sem nenhum entusiasmo, não ficava feliz, mas também não era justo impedi-la; ao contrário dele, ela estava livre e muito longe dali. Mesmo que não deixasse, munido pelo poder da chantagem psicológica, não iria permitir até quando? Durante os quatro anos que lhe aguardavam?
_Então, meu lindo, eu vou no carro da... não se preocupe... Porque.... eu...
Todo o resto ele nem quis escutar e quando desligou se perguntou onde mesmo estava a alegria, a energia que sentira durante o dia? Já era para ter dormido, mas ainda ruminava pensamentos torturosos: lá estaria na boate, sob as luzes coloridas e ao embalo das batidas, sua linda namorada, toda gostosa e esbanjando sensualidade para o deleite do olhar de um monte de tarados, sendentos, filhos da... Virou para o outro lado e mentalizou que tinha que dormir para acordar muito cedo.
A angústia só foi interrompida na noite seguinte por um telefonema. Só podia ser a mãe, supôs, para lhe perguntar se estava melhor do machucado na mão, se estava comendo direito, aquela coisa de mãe que sempre acha que ele estava num campo de concentração.
Mas não era:
_Amor, resolvi te ligar antes de sair. Estou toda pronta, estou cheirosa como você gosta. Queria que estivesse aqui. Mas ainda teremos muito tempo...
“Que ótimo, ela está ainda mais atraente do que seus pensamentos da noite anterior puderam fabular. Agora sim se sentia irritado por causa da impossibilidade que o cercava. Pior: que o cercaria dezenas de vezes ainda no futuro!”
_É mesmo? Que maravilha, minha gata linda! Eu nem posso falar muito, porque já está quase na hora de eu pegar o serviço. Mas se divirta, tá? No domingo, eu vou dar uma voltinha na cidade para espairecer. Uma voltinha literalmente, porque isso aqui é pequeno, você sabe né?_ riu.
Ela não riu de volta. Não conhecia pessoalmente a cidade ainda, mas sabia muito bem que além de pequena, a cidadezinha era repleta de algumas garotas que tinham como lema de vida encontrar o cadete dos seus sonhos e sumir dali.
_ Olha lá, hen?_ ela já deixou transparecer o ciúme que ele quis provocar para que assim ela sentisse na pele a neurose que ele tinha estado mergulhado desde que ela lhe contara ontem que iria com as amigas, sem ele, para uma boate repleta de caras solteiros e famigerados.
_Não se preocupe, linda. Eu confio em você e pode confiar em mim. Isso tudo vai acabar e poderemos curtir tudo juntinhos ainda.
_Claro..._ ela concordou, tendo a mesma certeza, mas não partilhando de nenhuma alegria. Desligou o telefone se perguntando cadê a empolgação que estava para sair com as meninas? Hei, não poderia ficar com aquela cara depois da superprodução que fizera. Estava style, tudo de bom e não estragaria o visual com um semblante emburrado. Afastou-se do orelhão na esquina de sua casa e já ouviu uma buzina de uns caras que passavam de vagar de carro e fizeram questão de usar as palavras mais sujas para gritar aos quatro ventos como estava encantadora.
Por que não estava ali o seu amor, o seu gatinho fofo, lindo? Ele sim saberia lhe dizer coisas românticas no ouvido e tornaria qualquer programa perfeito?! Não estava, porque a bolha onde se enfiara ficava quilômetros de distância e arrancava seu coro para que se formasse no futuro grande oficial brasileiro. Ah! Que ótimo! Já estava de mal humor.
Na boate, já cansada de tanto dançar, sentou-se a mesa e bebeu um pouco.
Então, seu gatinho sarado, perfeito, maravilhoso, estaria passeando no fim de semana? Não poderia ter uma idéia mais infernal para descontrolar sua paz. Quantas criaturas nojentas não avançariam nele para testar sua fidelidade? Só em visualizar umazinha olhando, tendo o privilégio que ela não tinha, de olhar para seu namorado, já lhe fazia o sangue esquentar por debaixo da pele. Começou a balançar o pé de baixo da mesa, como se tivesse caminhando milhas.Respirou fundo, não podia ficar assim, esse era só o começo de quatro longos e intermináveis anos. Aquelas ocasiões se multiplicariam e não podia criar rugas por isso.
Depois deste momento terapêutico, voltou a realidade e seus olhos focaram um casal na parede à sua frente tentando burlar as leis físicas e querendo ocupar o mesmo lugar no espaço. Eram tantas mãos ali, aqui, subindo, indo, vindo, entrando, saindo e... Meu Deus, se ele por fraqueza caísse em tentação e...
_Alô? Planeta terra?_ ouviu a amiga gritando em seu ouvido.
_Aí, oi!_ tomou um susto.
_Por que está olhando para aquele casal? Tava a fim do cara, é?_riu a outra já meio alta com a bebida.
_Não! Eu amo meu namorado._ achou a ridícula a hipótese.
_Perda de tempo! Depois ele te trai e você já vai estar velha para recuperar o tempo perdido._ atirou a amiga sua opinião como uma metralhadora, já não estava lúcida para medir as palavras.
Deixou para lá, não podia forçar ninguém ter a certeza do amor inabalável que só ela e seu namorado sabiam que tinha. Mas por uma fagulha de segundos passou-lhe a pergunta: sua amiga estaria certa e ela cega? Rapidamente disse: não! E então, nova pergunta: Eu fiz uma lavagem cerebral em mim mesma? Não demorou para a resposta: claro que não, deixa de ser ridícula, se não gostasse, não se sacrificaria. Aí, já que as comportas do inquérito estavam abertas no seu cérebro, veio outra questão vital: Seu namorado sentia a mesma convicção? Lembrou da voz dele ao telefone e da noite em que se conheceram ali, dos deliciosos fins de semanas partilhados com muito amor, beijos e promessas e terminou se acalmando: “Óbvio que ele me ama”.
Resolveu curtir a noite e repensou em como estava sendo egoísta ao não querer que ele desse uma volta na cidade. Precisava confiar, por mais que isso lhe demandasse energia, loucura e risco.
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Viver um amor distante é suportar o peso das dúvidas reais e imaginárias. Pela razão, ninguém agüentaria, só o amor sustenta a loucura dessa experiência, só compreendida por quem a vive na pele.
Muitos casais se penalizam, mas depois passam pela situação bem. Outros brigam, se magoam, para logo voltarem. Numa eterna roda gigante de “showzinhos” e “pirraças infantis”, num pueril desejo de sentir a certeza de possuir o objeto.Quando amor não é posse. Pelo contrário, quem ama sabe que o amor é “um pássaro pousado na ponta do dedo, pois quem tem um pássaro pousado na ponta do dedo sabe que ele pode voar a qualquer momento”. Esta “guerrinha” travada já com a certeza de um final pacifico, pode revelar no subterrâneo da alma insegurança consigo mesmo.
Característica essencial do amor é a preocupação com o bem-estar da pessoa amada. Se esta preocupação não estiver presente, o que pensamos ser amor pode ser apenas uma forma de desejo. Essa diferenciação, entre amor e desejo sexual, é difícil de ser feita, uma vez que ambos podem ser apaixonados e absorventes. No desejo sexual puro são mínimos os elementos de respeito e preocupação com o bem-estar do outro. O desejo de conhecer a outra pessoa tem um foco estreito e facilmente descarregado. Embora o amor também possa envolver a ânsia pela união sexual, neste o respeito pela pessoa amada nos impede de explorá-la egoisticamente.
***
p.s: Meninas, espero que tenham curtido muito as Olimpíadas. Não pude ir, foi uma pena, mas quem sabe ano que vem tenho a última oportunidade? Desejo que o amor de vocês suportem as dúvidas e os medos, que todas nós passamos alguma vez pelo menos. Um abraço bem apertado em cada uma.
2 Comments:
Bah.. perfeittoo o texto! ameii... =D~
eu jah passei mto por isso! agora to bem mais calma! ehehehh
naum saio em boates mais! seilah.... naum tenhu vontade de sair sem meu namorado! parece q nada tem graça! :// prefiro passar a noite tda falando com ele pelo msn! :D~
mas isso depende de cada um neh! :D
eu jah sai mto, enkanto ele tava lah! e odiavaa quando ele dizia q ia sai pra "toma uma ceva" com os amigos! q raivaa!! ehehehhe :D
tudo eh uma kestaum de tempo.. tudo passa tbb!!! :d~
esse texto me fez lembra de tantas brigas por causa de ciumes.. hehehehe nousssaa!!! :d~
Elianee... um grande bjooo!! =****
Lucy... perfeitoo o q tu escreveu!
as meninas andam empolgadas nos coments,viu?! ^^
..eu tb jah passei por isso mas foi bem mais fácil "me acalmar" já q tou enfrentando um vestibular..#\
e pra meu conforto ele eh bem calmo! =P
mas a sessão de se perder nos pensamentos ante um casal apaixonado - ou qq cena romântica!- eh realmente inevitável e ...nostálgica. ¬¬
hhmm...ai que saudade!! ^^
bjo,Eliane =*
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