20.2.06

Se coubesse na mala...

Na mala, o barbeador, o pote novo para esquentar o miojo, a escova nova que pedira. Um a um, iam os objetos passando pela mão dela direto para o interior da bolsa. Não esqueceu da toalha, correu no armário e pegou. Nem dos chocolates, pirulitos, biscoito. A cartinha foi para dentro da pasta, logo ali ao lado do bolo de meias e das cuecas.
Mas ainda assim sentia que faltava muito a colocar para que ele pudesse ter tudo o que necessitasse. Parou diante da mala azul, já batida de tantos anos, ainda conservando o nome gravado, e se deu conta de um pensamento que lhe trouxe um frio no estômago. Quantas mulheres já não arrumaram a mala do homem que amaram, sem saber que seria a última vez, pois estes não mais voltariam de suas missões?
Ela tentou não se conter nesta idéia da possível perda que sempre carregam as mulheres que amam um militar, não, não, afastou isso, pois já havia espaço demais para sentimentos angustiantes em seu coração de namorada de cadete. Como a aquela saudade que parecia sair pelos poros de tão grande que ia ficando a cada vez que incluía mais uma coisa na mala. Era uma estranha sensação de que preparava a própria dor, preparava com todo cuidado a partida que não queria. Só que continuava: tênis, havaianas, fio dental...
Sentou, não pelo cansaço físico, mas pelo mental mesmo. Requeria energia aquela manobra da preparação confortável para o outro. Este que ficara ali por todo o fim de semana, que viveu momentos tão intensos com ela que até pareceu por alguns segundos que tinham um namoro normal e que ele estaria na rua jogando bola no dia seguinte. Só que sabia que não era e a mala se encarregava de dar-lhe conta disso. Era o sinal de que a hora de deixar ir sempre chega.
Desistiu, era inútil, sempre faltaria algo importantíssimo. E se pudesse pôr as pernas para ele colocar entre as deles de noite e se sentir aquecido? Ou quem sabe os braços e envolvê-lo por trás quando estivesse sentado na cama, lendo as mensagens e detestando a solidão? Talvez, a boca para beijá-lo sempre com o beijo de Boa Noite. Podia ser também as mãos, para segurar as dele quando ele sentisse que a pressão era maior.
Riu, claro que não caberia ela toda dentro daquela mala, já cheia.
Antes de vê-lo entrar no ônibus, encostou a testa na dele e segurou-lhe o rosto com as duas mãos:
_ Me leva no seu coração, porque eu sempre vou estar contigo._ agarrou-lhe num abraço forte e já riu para afastar as lágrimas que teimavam em vir na frente._ Sou pequena, nem vou pesar tanto no seu peito.
Ele também sorriu, adorando o modo como ela conseguia tornar a vida dele mais leve e linda. Nem precisaria pedir, claro que a levaria consigo dentro do coração, onde não há estradas que separem.A mala agora nas costas, depois ele subindo no ônibus, que aos poucos se vai, ficando bem pequeno na estrada longa, até que desaparece feito caixinha de fósforo se encolhendo no horizonte.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Este texto me faz refletir sobre a partida dele ao terminar a AMAN... vai ser uma dura separação, mas... o amor supera isto tudo...
Bjocas
BOM CARNAVAL PRA TODAS!!!!!!

segunda-feira, fevereiro 20, 2006 4:27:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nossa, mto lindo..
ao ler lembro de cada despedida, de todas as vezes que tenho deixado ele partir e das muitas outras que ainda deixarei..
não estou tão perto quanto mtas de vcs, mas sei que estou no coração dele..
ai ai ser forte neh, rsrsr
mto lindo o texto! adorei
beijos a todas..

terça-feira, fevereiro 21, 2006 9:42:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Simplesmente a coisa mais linda esse texto que escreveuuu [e td lindo demais eh como me sinto...a distancia eh ruim mas amadurece a certeza do amor por q tenho por ele... nossa ateh copiei esse texto!!!

quarta-feira, fevereiro 22, 2006 1:27:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

é...antes eu achava que o ultimo ano dele na AMAN seria o melhor... o mais proximo do fim..mas agora que ta chegando que percebemos que esta so começando ne.... mas é uam fase.... e o amor é maior!!

quinta-feira, fevereiro 23, 2006 1:05:00 AM  

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