10.2.06

Privacidade


Como uma quase jornalista, tenho contato com o mundo dos “bastidores”. Quão cruel é a máquina que tem a informação como produto. A profissão hierarquiza: “famosos, ricos, mulher e os outros”. Essa é a ordem da caça. Vasculhar a intimidade alheia e estampá-la em primeira página, quanto mais tragédia melhor, é salário que aumenta. Sujo, trabalho sujo, você me diria. Sim, imundo. Gostaria de não ter que trabalhar nessa área de fofoca, mas independente de mim, continuarão as revistas lá na banca de jornal. Por quê se ganha tanto dinheiro com isso? Simples: as pessoas não estão satisfeita com suas vidas e precisam ver a derrota do artista para dizer: “Viu? Que adianta ser rico e nem sustentar um casamento? O meu está aqui!”. Essa catarse move milhões de dólares.
Quem disse que isso não afeta você, que se sente uma anônima? Sim, afeta, pois tudo que é diferente tende a ser motivo de inquietação para as outras pessoas. Quer mais diferente do que você namorar um militar? Um cara que vive longe de você e ainda por cima são felizes e apaixonados? Histórias de amor estão em extinção. Hoje, são plásticas, são capitalizadas, são um ficar numa noite, uma transa rápida. E quando vêem que você está vivendo um romance cheio de tanta carga emocional, vem a inveja. Inveja não é querer ter aquilo que você tem, o nome disso é admiração. Inveja é não quer que v-o-c-ê tenha! E ela tem força, principalmente quando encontra material para se pautar.
Digamos que fulano se acidentou e o dito cujo é famoso. Fácil, eu tenho meia hora para escrever uma minibiografia dele. Abro o santo google e lá estão fotos, o que ele falou da ex-mulher, quando foi pego traindo o marido e coisas bem mais escusas. Aí, você novamente se sente bem longe desse panorama. Errada outra vez. O orkut é um mural coletivo onde tudo se pode ser visto: desde dos seus gostos (através das comunidades), até suas fotos, seu perfil, seus planos e metas. E um monte de gente que não tem o que fazer, se alimentarão de curtir cada passo seu na comodidade do quarto, diante da tela.
Qual a solução? Acabar com seu flog, seu orkut, seu blog? Óbvio que não! Radicalismos sempre são um erro. A vida deve ter equilíbrio. Pense um pouquinho no que você expõe da sua vida pessoal. Para quem anda contando que está superfeliz?
Um conselho para as que acreditam ou não nisso: preservem a privacidade de vocês, pois a sua volta muitas são as que gostariam de terem o que têm. Essas forças ficam atuando invisíveis ao seu redor. Cuide bem da sua intimidade, das suas fotos, das suas histórias com seu amor. Não significa clausura! Há amigos com quem é maravilhoso dividir, desabafar, partilhar as conquistas. Eu disse a-m-i-g-o-s, esses sim te acrescentarão e darão força para seguir em frente.
O orkut é uma ótima ferramenta para encontrar pessoas, para deixar um recado para aquele que você nem sabe onde mora, ou nem tem o telefone. Mas o exagero na sua exposição pode ser mais prejudicial do que imagina. Empresas já têm como meio de seleção vasculhar o orkut de candidatos para ver suas comunidades e um simples: “eu sou preguiçoso”, pode detonar sua chance. Os “cookies” mapeiam todo o seu itinerário pela rede, os “Cavalos de Tróia” uma vez que entrem no seu pc pela internet, permitem que alguém bem longe de você leia tudo que está no seu computador (!), todas as suas mensagens no msn e você nem perceberá isso.
Refleti sobre o assunto por ter feito uma monografia na faculdade sobre a mudança do conceito público e privado a internet.A conclusão a que cheguei é que todos os recursos devem ser aproveitados, mas sem ingenuidade. O seu namoro está sendo vigiado por milhares de olhinhos... tanto na vida real como na virtual.
Que tal uma experiência? Se ponha no lugar de alguém que pouco te conhece. Abra tudo que na internet tenha a ver com você e observe bem atentamente até que grau você está exposta. Se atente a tudo que podem saber sobre a sua vida pessoal. Pois é, não só você, mas outros podem digitar seu nome e... * clique aqui*

p.s: O orkut também tem seu lado bom. É muito legal conhecer as meninas pelas comunidades referentes a “namoradas de cadete”. O msn também facilita conversas a quilômetros de distância. O blog permite um espaço para os textos. E, ah!, agradeço os comentários que algumas deixam, pois o retorno é gratificante!